terça-feira, 23 de outubro de 2012

Som, visão e persuasão: Surpresa!


Filme: Looper — Assassinos do futuro (2012), dirigido por Rian Johnson e estrelando Joseph Gordon-Levitt, Bruce Willis e Emily Blunt.

  A indústria cinematográfica atual está perdendo credibilidade, por mais avesso que isso pareça. Na minha opinião, vender milhões com a adaptação de uma HQ ou de um desenho old-school não quer dizer sucesso absoluto dos estúdios hollywoodianos, principalmente porque não estamos vendo nada de novo sendo apresentado. O tão comentado Avatar (2009), como muitos não cansam de dizer, é simplesmente Pocahontas em live-action e só serve para destacar todo o poderio gráfico de que James Cameron tinha à sua disposição. De lá para cá, à exceção de poucos roteiros originais, os filmes que provocam desastres naturais nas bilheterias são incontáveis adaptações de livros, além do apocalipse super-herói provocado pela Marvel e das versões 3D dos clássicos Disney. E, em meio à minha chatice crítica, já não sou fã desses títulos que, de tão americanizados e forçadamente épicos, nem merecem a tradução de seus nomes. De verdade, precisava fazer Avengers — Os vingadores? Só o título em português bastava, e muito. O que eu poderia dizer de Looper — Assassinos do futuro, então? A mesma coisa, talvez. Mas me surpreendi.
  A não-tradução do título de Looper cai muito bem nesse longa, pois qualquer tradução dessa expressão soaria ridícula. Os loopers, no filme, são os assassinos de pessoas que voltam no tempo, criando um paradoxo temporal ou, melhor dizendo, um loop. Uma rotação temporal interminável, por assim dizer. (Imagine agora se o nome do filme fosse Rotacionador.) Em meio a um futuro próximo com tecnologias parecidas com a do mangá Dragon Ball, Joe (interpretado por um Joseph Gordon-Levitt a lá Três homens em conflito) é um desses assassinos que, caçado pela máfia em todas as intrincadas tramas clichês de dinheiro e reféns, acaba se mudando dos Estados Unidos para a China, fugindo dos mafiosos e continuando sua letal profissão, até, trinta anos depois e já com cara de Bruce Willis, ser rendido pelos asseclas do despótico criminoso Rainmaker e ser enviado à época quando o tirano era só uma criança — e quando o filme começa —, com o objetivo de ser morto pelos loopers. Só que, aproveitando sua estranha estadia no passado, o jogo vira e o velho Joe resolve caçar o pequeno Rainmaker para que o mundo do futuro pudesse estar a salvo. O único problema é que Willis não é o único Joe na jogada, e aí as coisas complicam para todos os lados.

  Som
  Não sei se sentei muito para frente na sala de cinema, mas nem mesmo Atividade paranormal 3 me assustou de supetão tantas vezes. Looper é barulhento e apocalíptico, com uma trilha sonora que acompanha a desordem e algumas músicas country bem atraentes para os momentos mais calmos. Só ainda não me decidi se todos os sustos foram propositais ou simplesmente volume mal equalizado.

  Visão
  Looper faz parte dos escassos longa-metragens de ação em que você consegue entender o que acontece nos tiroteios. Por mais vibrante que o filme pareça ser, ele tem menos cenas de ação do que o esperado, o que realmente não é um ponto ruim. É uma surpresa, e muito bem-vinda, pois o drama psicológico de Joe Willis e de Joe Gordon-Levitt ganharam um espaço mais do que merecido no longa.
  A caracterização dos personagens é outro ponto forte do filme: Bruce Willis é um ótimo Bruce Willis por todos os cem minutos, Joseph Gordon-Levitt é uma boa mistureba de Daniel Craig com Clint Eastwood, Emily Blunt (que interpreta Sara, a mãe do pequeno Rainmaker) é uma das mulheres mais fortes e seguras de si que já vi retratada em um filme e Jeff Daniels (o ator que faz o mafioso Abe) sabe como ser justo sem deixar de ser imponente. Isso também vale para a "Persuasão", sim, porém não posso deixar de dizer que a unicidade de cada um deles me fez pensar muito se Looper não é a adaptação de alguma história em quadrinhos, mas é um roteiro original. Ainda bem.
  Um post scriptum: Willis e Gordon-Levitt não têm muito a ver fisicamente para interpretarem a mesma pessoa, na minha opinião. Mas valeu a tentativa, (produtora).

  Persuasão
  O enredo surpreendentemente dramático de Looper me estapeou no rosto e me mostrou que, sim, personagens em filmes de ação estão longe de ser preto no branco. Cid, o Rainmaker criança (interpretado formidavelmente pelo pequeno Pierce Gagnon), por mais que você saiba que se tornará um ditador do crime no futuro, te conquista com sua simpatia e complexa história de vida. Enquanto isso, Joe Willis logo deixa de ser o herói do longa para se transformar em assassino impiedoso de crianças, e aí seu senso de moral embanana tanto que você deixa de rotular mocinhos e bandidos.
  As atuações são incríveis, o enredo também. Cai em alguns clichês, como o personagem de Pierce ter matado a mãe quando pequeno (lembrei-me de novo de Dragon Ball, já que Goku mata o avô em semelhante idade), mas reinventa-os na anovelada história do filme. Sua persuasão principalmente se dá por causa dessa reinvenção e do elemento surpresa: Você vai ao cinema ver um filme óbvio de ação futurista e se depara com um thriller psicológico onde a questão sci-fi fica em mero segundo plano — bem diferente d'O vingador do futuro, onde você assiste o que acha que vai assistir —, e é tarde demais para não ser pego nessa avalanche de descobertas.
  Continuando o post scriptum: O único problema da "Persuasão" é essa falta de semelhança entre Willis e Gordon-Levitt, que não convenceu em nada e me fez pensar que colocaram o Church d'Os mercenários em Looper só para faturar um pouco mais e gastar um pouco menos com tecnologias de envelhecimento digital.

  Ando chorão demais e engoli umas lágrimas no final desse longa. Não sei se todos filmes atuais estão tentando comover, de um jeito ou de outro, mas Looper alcança esse objetivo, pelo menos. É uma trama palpável, humanizada, sem heróis e vilões. O bem e o mal se revezam constantemente e, por mais difícil que seja acompanhar o início do filme, tão cheio de reviravoltas, viagens no tempo e tiroteios, logo tudo se coloca nos devidos lugares e você tem um dos mais interessantes roteiros cinematográficos originais de 2012.
  E é claro que não há link para download, o filme foi lançado há muito pouco tempo. Aproveitem que as salas de cinema estão esperando por vocês! (Mas prometo que em breve colocarei um link, tudo bem?)

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Som, visão e persuasão: Um entre muitos



Filme: A órfã (2009), dirigido por Jaume Collet-Serra e estrelando Vera Farmiga, Peter Sarsgaard e Isabelle Fuhrman.

     É complicado avaliar a beleza de um filme de terror, principalmente um tão bizarro como A órfã. A bizarrice desse longa, contudo, diferente da série do boneco Chucky ou do contorcionismo de Regan em O exorcista, é tão coesa e convincente que quase me obrigou a escrever sobre ele. Assisti A órfa pelo menos cinco vezes — no mês em que o MaxPrime simplesmente passava esse filme todo santo dia —, e ver como o enredo se encaixa de modo sensacional em meio às atitudes da abominável Esther Coleman, a garotinha que intitula o filme, me impressionou como nunca antes.
     Quase como O chamado, essa obra de pouquíssimo mais do que duas horas é um suspense carregado de doses fortíssimas de horror e sustos. Atrás de todos os rostos pálidos e gritos desesperados existe uma história cativante e muito bem engendrada em toda sua extensão, que começa quando John (interpretado por Peter Sarsgaard, que sempre vai me fazer pensar no Jack Bauer) e Kate (a personagem de Vera Farmiga), após a sua terceira filha morrer no parto, resolvem adotar uma criança. por sua peculiar inteligência e tino artístico, Esther (a enigmática Isabelle Fuhrman) é escolhida para completar a família, que ainda conta com um filho hiperativo e totalmente repulsivo à órfã e com uma pequena filha com problemas auditivos e graciosa como a Alice de Lewis Carroll. Mas, claro, como todo bom filme de terror, coisas estranhas começam a acontecer assim que Esther é colocada sob o mesmo teto da família Coleman. O único porém, julgo, é que em A órfã as coisas que acontecem são realmente estranhas. E convencem, viu? Todo detalhe é importante nesse longa. Todo.

     Som
     Não, A órfã não conta com aquela trilha sonora cheia de metalcore da série Jogos Mortais e de Freddy vs. Jason. O clima soturno do enredo impede que qualquer tipo de animação entre pelas janelas da casa de Esther, deixando todo o longa em tranquilo horror. Não é impressionante e passa despercebida pelo filme (a não ser nas cenas de susto, quando aquele estampido genérico surge para que o efeito do pavor seja triplicado), então nem vale a pena perder tantas palavras por aqui.

     Visão
     Só que a visão de A órfã traz a diversão que você precisa em um filme de terror. O efeito utilizado na introdução e nos créditos — imagens que são transpostas por outras sob luz negra — é uma adição muito condizente com o enredo que dá um charme especial a essa produção da Warner Bros. (sim, como você imaginou, o logotipo da Warner também é afetado por esse efeito.)
Além disso, a fotografia das cenas se utiliza de muitos clichês de filmes do gênero, como reflexos e ambientes desconfortáveis, mesmo fora de situações de horror. A tensão do filme, então, é reforçada por cada um desses momentos em que você espera que algo aconteça... e nada acontece. E, de repente... nada acontece mais uma vez. E BANG! Esther ataca mais uma vez! Os sustos que A órfã proporciona são justos e coadjuvantes, de modo algum estragando a experiência repleta de detalhes. São bem-feitos mesmo assim. E assustam.
     Um último adendo: A maquiagem para Isabelle se tornar Esther é inacreditável de tão realista. Meu queixo ainda não voltou ao lugar desde que descobri que a atriz, à época, era uma garota de onze anos.
     "Ué, mas ela não é uma pré-adolescente no filme?" Pois é...

     Persuasão
     A primeira cena do filme — Kate dando à luz um bebê morto e irresponsavelmente ensanguentado — garante que os minutos restantes de A órfã sejam mantidos na mesma pressão emocional. Os detalhes, como não cansei de citar por toda essa resenha, são igualmente convincentes e utilizados com maestria. Nada fica subentendido: Tudo acontece às claras do espectador, que consegue entender sem maiores delongas o inferno que a vida do casal Coleman se torna no desenrolar do enredo graças às horrendas travessuras de Esther. E isso é um ponto altíssimo. O filme flui com facilidade, como se você não precisasse forçar seu cérebro além das duas horas que englobam a história.
     As atuações são incríveis, também. A implosão da relação entre os personagens de Peter e Vera é absurdamente bem retradada: Você entende os nervos à flor da pele de Kate assim como você entende o estresse de John, e você quase salta dentro da televisão para esganar Esther. Duvido que você não vibrou/vibra quando Kate estapeia a personagem de Isabelle Fuhrman. Eu vibro toda vez.

     A órfã surpreende como filme de terror. Vai um pouco além disso — um pouco só, mas vai — e prende a atenção do espectador com um enredo muito bem engendrado e trabalho artístico impressionante. É perturbador, comovente à sua maneira e consegue emplacar Esther como um dos mais novos mascotes desse gênero, sentada ao lado de Michael Myers e da marionete Billy. Um mercado saturado como esse, no entanto, talvez não tenha dado muito espaço para que A órfã brilhasse com mais intensidade, o que não me impedirá de assistir esse filme muito mais vezes e pensar como ele deveria desbancar muitos longas nonsense e pseudo-trash que produtoras folgadas estão lançando sem pausa. Altamente recomendado para quem quer ir além de sustos e gritos em uma história apavorante.

Download do filme (RMVB, dublado, 400 Mb)

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Som, visão e persuasão: "Encandesplendoroso!"


Filme: Moulin Rouge - Amor em vermelho (2001), dirigido por Baz Lurhmann e estrelando Ewan McGregor, Nicole Kidman e John Leguizamo.

     Ah, um clássico. É praticamente impossível um musical não ter altos níveis de beleza, claro. Moulin Rouge, no entanto, transcende a maioria dos musicais aos quais estamos acostumados pelo arrebatador roteiro por trás das canções, que faria sucesso igual em um filme, digamos, convencional. Nunca — nunca mesmo — iremos cansar de histórias de amor, e a intrincada e fluente trama entre a cortesã Satine (a exuberante Nicole Kidman) e o miserável boêmio londrino Christian (o impecável Ewan McGregor, um dos meus atores preferidos, por sinal) dança e canta pelas duas horas com uma leveza inigualável.
     Tudo acontece na Paris do fim do século XIX, efervescente época cultural na Europa. Àqueles anos, a cidade borbulhava de artistas que cansavam de versar sobre suas sempre inacabadas obras e também de bordéis e prostitutas em todo e qualquer beco escuro. O Moulin Rouge, nesse panorama, era a grande atração pirotécnica e artística, que atraía toda essa casta artística que esperava sua chance para fazer sucesso (entre esses artistas está Henri de Toulouse-Lautrec, caricata figura histórica interpretada por John Leguizamo que, na vida real, utilizava o também histórico Moulin Rouge como grande inspiração para suas pinturas). Sua cortesã principal era Satine, que já não queria mais seguir tal carreira e gostaria de se empenhar como atriz. Seguindo seu sonho, acabou, em vários desencontros e confusões, encontrando Christian, escalado como escritor de um espetáculo que, graças a todo esse tumulto, seria financiado por um duque para que fosse apresentado no próprio Moulin Rouge, quando ele deixasse de ser um bordel para se transformar em um teatro. O conturbado amor de Satine e Christian é marcado pela obsessão do duque pela meretriz, pela iminência do espetáculo e por inesperados desmaios da personagem de Nicole Kidman, que logo fazem com que a anovelada relação se torne proibida e, logo após, inviável. Mas o que é impossível para a geração boêmia de 1899, que acredita, acima de tudo, no amor?
     Para Christian, o amor é como o oxigênio.

     Som
     Não existe trilha sonora melhor. Adaptações perfeitas de Nirvana, David Bowie, The Police, Whitney Houston e Queen, mescladas com canções próprias, são o ápice de Moulin Rouge. O trabalho feito em cada uma delas, injetando estilos musicais como o can-can e o tango em excelente harmonia com o rock n' roll e com boas doses de música eletrônica, simplesmente dão um tapa na cara de musicais que só se prontificam a copiar toda a estrutura da música e colocá-la em uma voz teatral. Moulin Rouge mostrou como que se inova em musicais.
     Destaques? Muitos: "Lady marmalade" é o hit radiofônico do filme que você provavelmente já ouviu e com o qual aprendeu francês pela voz de Christina Aguilera, P!nk e outras cantoras, ou vai me dizer que você nunca disse "voulez-vous coucher avec moi"? "El tango de Roxanne", tendo como base "Roxanne", do The Police, é a adaptação mais original e que dá o ar da graça no momento mais tenso de todo o filme. Por fim, as breves participações de Kylie Minogue e Ozzy Osbourne ajudam a enfeitar a trilha sonora e deixá-la bonita e brilhante como uma árvore de Natal decorada.

     Visão
     Bipolar. Em um momento você se vê no apartamento velho de Christian, em uma quietude visual quase monástica, e no outro você vê dezenas de prostitutas maquiadas pulando ao som de "Smells like teen spirit". Você acaba se acostumando com isso, mesmo assim. Você entende que a vida de Christian funciona nessa bipolaridade visual, então não se torna exatamente um problema na fotografia do filme.
     O ponto realmente relevante é o figurino e a maquiagem. Bataclã é para os fracos: O Moulin Rouge borbulha em roupas espalhafatosas e detalhadas como um vaso chinês, tanto nas cortesãs como no elenco teatral. Mesmo em momentos menos turbulentos, como quando Satine se produz mais para se encontrar com Christian ou com o duque, o trabalho visual é algo incrível, e Nicole Kidman fica cinco vezes mais bonita a cada cena em que aparece. Os cenários também são dignos de menção, tão brilhantes e meticulosos quanto as roupas. Destaque para o Elefante, o especial quarto de Satine onde ela leva seus gentis cavelheiro, tanto interna quanto externamente. É o tipo de lugar onde um fotógrafo poderia fazer centenas de ensaios sem nunca se cansar.

     Persuasão
     Não é difícil acreditar no sofrimento de Christian. Satine escorrega de suas mãos por todo o Moulin Rouge, então com uma hora de filme você já sente pontadas no coração iguais às que o personagem de Ewan McGregor sente. Além disso, os personagens são repletos de características marcantes que os transformam em caricaturas genéricas do que são: Uma prostituta infeliz em seu trabalho, um artista boêmio tentando se encontrar em um continente cheio de reviravoltas, um duque rico que está acostumado a comprar o amor. Algo bem característico em peças teatrais e musicais, o que faz Moulin Rouge não perder sua verdade.
     A persuasão se faz nas músicas emotivas, como "Come what may" e "Elephant love medley", recitadas por todo o filme. É nelas que você entende a mensagem que o longa quer passar para todos nós: "O amor superando todos os obstáculos", como Christian diz. Tudo bem, amor é e sempre será um tema batido, mas eficiente até demais se usado com maestria. Isso acontece em Moulin Rouge, que comove em meio a situações engraçadas e complexas. É um espetáculo, não? Um espetáculo que gira em torno de uma mensagem, algo tão característico quanto os personagens estereotipados, e por isso as duas horas de Nicole e Ewan valem a pena.

     Moulin Rouge não enjoa. É uma história de amor que todos gostariam de assistir, por ser tão verdadeira e tão emocionante. A parte boa? Sim, vou estragar porque esse filme já tem mais de dez anos: O final não é feliz. Ou é? Bem, ele não é o final mais convenientemente feliz que se pode esperar em um romance, e isso — a falta de convencionalidade — me agrada por demais. Esse filme merece ser assistido (e, principalmente, ouvido) muitas vezes por toda uma vida, para que todos os detalhes sejam entendidos em sua completude. E, afinal, todos nós precisamos, em toda a vida, de um empurrão para que não deixemos de acreditar na verdade, na liberdade, na beleza... e no amor.

Download do filme (RMVB, dublado, 418 Mb)

Posfácio: Estou muito óbvio nessa coluna, só colocando filminho bonitinho e cheio de dancinha. Pode deixar que semana que vem eu surpreendo vocês, beleza? Até lá!

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Som, visão e persuasão: Primeiro ato

Em carne, osso e DVD no notebook.
   Opa, espera aí: Um homem no Dyke and Lady?
   Sim, sou Alaor Rocha, professor de inglês, cantor de karaokê e escritor no parceiro Mínima Ideia, e é um prazer estar aqui, estreando uma nova coluna no blog sobre filmes. Não, isso não está tão longe da proposta do Dyke and Lady, como você deve estar pensando: Muitos filmes — e seus respectivos atores — já foram responsáveis pelo modo como as pessoas se vestem e se comportam, e isso se repete até os dias de hoje. Um exemplo? Conhece Pulp Fiction, com Samuel L. Jackson, John Travolta e mais uma constelação de atores? Pois bem, se você usa esmaltes escuros hoje em dia, a culpa é da cor das unhas de Uma Thurman nesse filme. Isso sem falar na influência de Marilyn Monroe para a disseminação do estilo pin-up, no vestuário de Embalos de sábado à noite que ditou uma época e muitos outros fatos cinematográficos que estão entremeados em nosso dia-a-dia.
   Pois bem, espero ter-te convencido, pois estou aqui para analisar nada além da beleza dos filmes. Sim, a beleza. De um modo geral, claro: Seria muito fácil dar nota dez a uma obra estrelando o Johnny Depp ou a Malin Akerman se eu só avaliasse rostos bonitos. A coluna "Som, visão e persuasão" examina esses três aspectos de cada filme: Em "Som", a trilha sonora, sua influência nas cenas e a adequação do volume; em "Visão", os efeitos especiais, fotografia e figurino e, finalmente, a "Persuasão" é responsável por dizer, avaliando o enredo, as atuações e os díalogos, o quão convincente é a trama de cada longa-metragem e o quão longevo ele promete ser — ou seja, se ele conseguirá emplacar uma tonalidade de esmaltes na mulherada ou um topete no clube do Bolinha. No fim de cada postagem, também, deixarei o link para o download do filme examinado.
   Mas, claro, essas serão só minhas opiniões. As suas também serão muito bem-vindas nos comentários, e sim, talvez possamos travar algumas discussões cinematográficas por aqui!
   Já falei demais, não? Vamos logo para o que interessa.
   Boa leitura a todos vocês!


Filme: Cisne Negro (2010), dirigido por Darren Aronofsky e estrelando Natalie Portman, Mila Kunis e Vincent Cassel.

   "Inesperado", pensei ao me perder na tela branca no final de Cisne Negro. E não digo isso por causa do término: As quase duas horas de filme conseguiram, sem uma piada sequer, grudar meus olhos na tela sem pestanejar em momento algum. Não pude deixar de pensar em como os delírios de uma mente atormentada protagonizam as histórias mais incríveis com as quais já tive contato, e em como a verdade disso é tão tangível no universo perturbado onde Nina Sayers (a belíssima e convicta Natalie Portman) é obrigada a viver: Um mundo repleto de traições, alucinações e muitas, muitas frustrações.
   Tendo como pano de fundo a peça "O lago dos cisnes", composta por Tchaikovsky, a história de Cisne Negro é uma impressionante analogia à história do próprio balé — um pouco de atenção ao resumo que Thomas Leroy, o personagem de Vincent Cassel, apresenta ao início do filme é o bastante para entender a intersecção entre os dois roteiros. Nina é escalada para ser a Rainha dos Cisnes, o que a garante dois papéis protagonistas no balé. A incapacidade dela de representar o sedutor e maligno Cisne Negro, no entanto, faz com que ela tenha inúmeros encontros com uma personalidade escondida nos recônditos de sua alma e da qual ela não tem o menor controle. Ao mesmo tempo, essa pulsão dentro dela é o que a faz interpretar com maestria o malévolo papel, tanto na peça quanto em sua própria vida.

   Som
   A trilha sonora, obviamente, é uma adaptação de um dos grandes mestres da música erudita, então é indiscutível a qualidade dela. Existem, também, batidas dos Chemical Brothers que garantem verdade e modernidade ao mundo contemporâneo de Cisne Negro. Ao decorrer do filme, as perturbadoras reedições de Tchaikovsky expressam com vivacidade todos os dilemas de Nina enquanto se vê pressionada por Thomas e desencorajada pela mãe, Erica (Barbara Hershey), então não é difícil sentir-se dentro da conturbada mente da personagem da senhorita Portman enquanto "O lago dos cisnes" toma sua forma nos estúdios.

   Visão
   Inacreditável. Ainda me pergunto como foi possível a gravação das cenas do balé, que foram registradas do próprio palco e com incontáveis rodopios e vaivéns. Apesar de muitos momentos aflitivos, como as (até normais) cenas em que alguma unha de Nina racha ou quebra, a excitação dela nas cenas que envolvem sexo ou a mudança de semblante quando ocorre o flerte com sua outra personalidade é quase palpável de tão verossímil. As câmeras parecem reagir aos disparates da Rainha dos Cisnes.
   Isso sem falar do balé em si: Magnífico. Esmagadoramente real e dinâmico, e com certeza desperta em muitos a vontade de apreciar essa arte ao vivo, como despertou em mim. Cisne Negro, aliás, ganha muitos pontos por abordar o balé, que perdeu muito de seu reconhecimento nas últimas décadas, e revivê-lo com maestria em uma história de respeito. Mas só falo sobre o enredo no próximo item, não?
   Ah, antes que eu me esqueça de mencionar, os efeitos especiais são soberbos. Fazem parte da triste lista de spoilers, e por esse motivo não posso discorrer sobre eles, mas garanto que é a surpresa mais bem-vinda de todo o filme.

   Persuasão
   Desde seu lançamento, Cisne Negro já está sendo apontado como um promissor filme cult das próximas gerações. E por que não? As atuações são magistrais e repletas de personalidade — mesmo Beth, a ex-Rainha dos Cisnes interpretada por Winona Ryder, que tem um papel relativamente pequeno na trama, é notável do começo ao fim —, o enredo é envolvente e o desfecho, surpreeendente. Encontrar-se com "O lago dos cisnes" dentro de uma vida psicótica como a que Nina leva é deixar-se levar por uma comovente e agressiva viagem por um mundo nunca antes explorado dessa maneira. Além do mais, fez-me pensar sobre a real profundidade de histórias tão superficiais à primeira vista, como contos de fadas: Afinal, o que foi feito com o balé de Tchaikovsky não foi só uma adaptação na trilha sonora: Foi uma reinvenção. Redescobriram a América, redescobriram a Rainha dos Cisnes e, de repente, tudo ganha novos significados. Você se entrega ao Cisne Negro. Você deve se entregar a ele.

   Cisne Negro, lá no fundo, bem no fundinho, é um grito pela liberdade. Não há lesbianismo à toa, não há masturbações à toa, não há sangue à toa: Não há uma cena à toa nesse filme. Tudo transpira liberdade, tudo transpira a loucura que se torna uma vida encarcerada em tradicionalismos. É uma ótima pedida para qualquer um que deseja ver o mundo sob uma ótica diferente — sob uma ótica livre.

Download do filme (RMVB, dublado, 315 Mb)

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Brasil e a Evolução da Moda

Depois de muita luta, pesquisas e trabalho duro, o Brasil  está se tornando destaque no mundo da moda, que por ser vasto se torna difícil de se destacar.

É  um universo que exige dedicação e trabalho duro. Temos que abrir mão de muitas coisas para que nosso trabalho aqui e lá fora sejam valorizados, lutamos por uma economia mais justa e igualitária mesmo.

A moda também é um mecanismo para a revolução, através dela podemos criar meios de comunicações para as melhorias sociais e econômicas do nosso pais.

Nós, Estilistas, gostaríamos que nosso trabalho fosse reconhecido dentro nosso pais, no qual muitas vezes, somos tratados como fúteis, sem receber o menor incentivo ou investimento. E quando li esta reportagem fiquei muito feliz em saber que São Paulo e o Rio de Janeiro estão na lista do Rankings das capitais mais importante no mundo da Moda, e que nossos esforços estão valendo a pena, o que nos motiva a trabalhar ainda mais pelo que acreditamos. 


São Paulo esta em 7°  lugar e o Rio de Janeiro esta em 17° lugar. segue a baixo a tabela completa ....
Ranking das principais capitais da moda de 2012, segundo a GLM:
1. Londres, Reino Unido
2. Nova York, Estados Unidos
3. Barcelona, Espanha
4. Paris, França
5. Madri, Espanha
6. Roma, Itália
7. São Paulo, Brasil
8. Milão, Itália
9. Los Angeles, Estados Unidos
10. Berlim, Alemanha
11. Antuérpia, Bélgica
12. Hong Kong, China
13. Buenos Aires, Argentina
14. Bali, Indonésia
15. Sydney, Austrália
16. Florença, Itália
17. Rio de Janeiro, Brasil
18. Joanesburgo, África do Sul
19. Singapura, Singapura
20. Tóquio, Japão



segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Riot Grrrls


Tudo começou com aquela história de Eva ter sido criada a partir de uma costela de Adão. Já começaram dizendo que éramos seres inferiores. Surge a idéia da nossa devida submissão aos machos. Então, Eva é convencida pela serpente – outra figura feminina – a comer o fruto proibido. Ela come e todos são expulsos do paraíso.
Mas que porra de paraíso é esse em que todos são obrigados a renunciar aos seus desejos?! Que bela concepção de paraíso, Sr. Deus.
Por que aceitamos tudo isso?! Vivemos em uma sociedade extremamente machista. É claro que já foi pior, mas hoje o preconceito está tão enraizado que nem o percebemos mais.
Antigamente era inadmissível uma mulher sair sozinha, perder a virgindade antes do casamento – o que não mudou pra algumas culturas -, trabalhar fora de casa, usar calças, frequentar um ambiente tipicamente masculino, nem o direito ao voto a mulher tinha, e isso só pra citar alguns exemplos…
Foi só a partir dos anos 60 que as mulheres começaram verdadeiramente a ter destaque perante a sociedade. Junto com toda a efervescência política daquela época, surge a minissaia, a pílula anticoncepcional, a idéia de independência financeira feminina… eis o surgimento da revolução sexual, surge um novo comportamento, a busca por prazer e emancipação, a quebra de antigos paradigmas, o anseio por liberdade e igualdade, a paz e o amor dos hippies… Mulheres & homens combatendo a caretice comportamental que reinava até ali. As coisas começaram a mudar, mas ainda tinha muita coisa a se fazer.
Mais pra frente, nos anos 90, influenciado pelas feministas dos anos 60, surge o movimento riot grrrl nos EUA. Esse movimento foi popularizado por bandas de meninas, como Bikini Kill, que vieram pôr um fim no mito de que mulher não podia tocar instrumentos musicais tão bem quanto os homens. E convenhamos, as meninas munidas de suas guitarras, baixos e baterias, deixaram e continuam deixando muitos homens no chão.
Riot Grrrl é feminismo com atitude, para mudar a sociedade e as pessoas com palavras radicais. É ser você mesma, se recusar a mudar o seu jeito por causa da sociedade, não se conformar com certos padrões. Aceitar a beleza em suas mais diversas formas. É ter opinião própria.
Fácil ver como as coisas avançaram, mas como eu disse no começo, há alguns preconceitos tão enraizados que já nem os percebemos.
Mulheres exercendo o mesmo cargo que os homens e ganhando menos. Mulheres humilhadas pelos seus maridos, muitas vezes vítimas de violência física. Mulheres nem tão bonitas nem tão magras sendo desprezadas. Mulheres em busca do corpo perfeito gastando milhões com cirurgias plásticas ou morrendo de anorexia. Letras de músicas insinuando a mulher como simples objeto. Menos de um quinto de mulheres participando da política brasileira.
 Mulheres são frágeis. Mulheres não podem falar abertamente de sexo pois é vulgar. Apenas mulheres devem ser fiéis. É apenas dever das mulheres cuidar dos filhos e arrumar a casa. Mulheres inteligentes demais não servem pra fuder. É normal homens casados procurarem prostitutas pra se divertirem. Homens mandam na relação e são os chefes da casa. Homens devem obrigatoriamente ganhar mais do que suas parceiras, é humilhante se o salário dela for maior. Homens com muitas mulheres são garanhões. Mulheres com muitos homens são putas. Homens que assistem vídeos pornôs são machos. Mulheres que assistem vídeos pornôs são vacas. Homens devem ser fortes. Mulheres devem ser delicadas.
Ah, qual é? São inúmeros os clichês que ouvimos diariamente. E porra, NÓS TEMOS QUE SER/FAZER O QUE QUEREMOS! Por que aceitar os estereótipos que a sociedade nos impõe como corretos? Cada um tem o direito de escolher o que é ou não correto pra si mesmo. Também é da escolha de qualquer um deixar-se ser dominado pelos pensamentos e preconceitos dos outros ou não. A verdadeira mudança tem que partir de cada um de nós. Porque se homem machista já é uó, mulher machista então nem se fala. Cabe a nós, garotas, escolher entre continuarmos presas aos padrões pré-estabelecidos que nos são impostos ou quebrá-los e bancarmos assumir nossas bundas e cérebros.
Como desde o princípio, a luta por igualdade continua.

terça-feira, 11 de setembro de 2012

E a família Dyke & Lady cresceu!

Uma pausa nas história de Paranapiacaba, para uma novidade: Agora teremos novas "colaboradoras".
Grazi Massonetto... Ou parte dela...

Uma delas será a jornalista Grazi Massonetto, prestes a se formar pela Cásper Líbero, militante, feminista, estilosa, inteligente, divertida, leonina e exibida!

Ela fará uma "coluna" semanal falando sobre questões feministas, a situação das mulheres ao longo dos tempos, e tudo mais. Mas também pode eventualmente postar sobre eventos e baladas, porque afinal, "Augustear" é com ela mesma. Se precisar de uma boa guia para te levar aos lugares mais quentes de São Paulo, sem dúvidas a Grazi é essa pessoa!
Aline só nas cachaças...

Nossa outra colaboradora será a senhorita Aline Cavalheiro... Essa aí mora em Minas e nem sabe andar de metrô, portanto, se é melhor pedir informações só pra a Massonetto mesmo. Ela postará mais coisas em nossa Página no Face, e claro, já é a mascote oficial da grife, e servirá de manequim vivo para as roupas que já estamos começando a desenvolver!

Mas uma vez peço desculpas pela falta de frequência nos posts, mas as coisas já estão se ajeitando, e como por celular é mais fácil atualizar o Face, não deixe de curtir nossa página.